Registro da dança de São Gonçalo em Penha

Registro da dança de São Gonçalo em Penha


Maria do Carmo Ramos Krieger*


Era tempo da Festa do Divino. Num domingo a noite de maio de 2006, foi dia de receber a visita da bandeira para o casal Manoel Domingos e Auristela Corrêa, no centro de Penha.

O cortejo estava chegando: foguetes, buzinas de carros e música (Os Devotos do Divino, autoria de Ivan Lins) anunciavam mais um encontro dentro da programação daquele ano.
                                     

Na ocasião, três famílias recebiam a Bandeira do Divino para dois convites: um para que duas delas fossem "Empregados das Bandeiras" e outro, especial e de posto mais elevado (significando a importância do convidado no relacionamento do Imperador): para Empregado de Vara - cujo conjunto de quatro varas forma o quadro dentro do qual segue o Imperador e seu cortejo no domingo, dia de Pentecostes, quando ocorre a Coroação do Imperador do Divino durante a Santa Missa na Igreja Matriz de Penha.

O casal Imperador do ano, Francisco Salles e Bernardina Cordeiro, também recepcionava a todos e, após o acolhimento à bandeira, os Foliões do Divino anunciavam ter sido aceito o convite especial quando a Imperatriz solicitou permissão para a Dança de São Gonçalo. Nesses encontros nem sempre a dança é efetuada, dependendo da solicitação prévia ao dono da casa, ou quando ele próprio solicita à Imperatriz.

Cerca de 120 pessoas presentes nesta noite ouviram o convite para a dança, significando que São Gonçalo iria ser homenageado. Nem precisou insistir: as pessoas se organizaram aos pares, sem número fixo, valendo mulher com mulher, casal não casado, gente de todas as idades, e formavam uma fila. Havia público que assistia e a alegria era uma só.

Geralmente a dança acontece na última casa programada para o final de semana, ou seja, domingo à noite, quando a Bandeira da Peregrinação, que é a bandeira oficial das visitas para os convites aos empregados, visita as últimas famílias listadas.

Ao som de Mineiro Dô, melodia de outras festas de cultura popular de base açoriana em Penha, como a Festa do Mastro de São Sebastião e Natal dos Negros (extinta em 1996 e conhecida também como Festa do Rosário), os Foliões do Divino deram início ao ritual, entoando versos como:

"A senhora me explique
o que veio fazer aqui:
só ver os foliões
ou dançá ao santo e pedi".

Esta foi dedicada à pesquisadora. Para o dono da casa a toada foi especial:

"O Nelo fez o agrado
já pode tomá seu lugar
ora viva São Gonçalo
já pode se alevantá".

(Nelo é o apelido de Manoel Domingos, o anfitrião da noite) 

A fila ia assumindo um comprimento enorme, ganhando o espaço do pátio da casa. Cada casal seguia o ritmo da dança que era ditado pelos foliões e numa sequência de passos curtos e volteados, dirigia-se a uma mesa que servia de aparador para os objetos: uma pequena imagem de São Gonçalo, uma cesta para recolhimento de ofertas aos músicos, copos com bebidas (geralmente vinho tinto e cachaça) que serviam 'de desculpa' para oferecer um pequeno gole ao santo e um vaso com flores vermelhas, conhecidas como flores do Espírito Santo. Ao redor da mesa, estavam os foliões. O casal ajoelhava-se e precisava ouvir atentamente a cantoria até ser liberado para retornar à fila, saindo sempre de frente, não dando as costas para a imagem do santo a fim de não ofendê-lo.

Com frequência os foliões entoavam novos versos e o casal precisava permanecer ajoelhado. Ás vezes havia motivo para alguma brincadeira a mais, e os foliões faziam o casal tomar outro gole, sempre à vista do Imperador e da Imperatriz, que aplaudiam os sãogonçalistas no ritmo da música. O Imperador e a Imperatriz também dançavam, aguardando a sua vez e escutavam os versos tirados de repente. E assim sucessivamente, outras pessoas escutavam a toada a elas dedicada, tomando o gole do santo e a fila andava, com o casal à frente formando arco com os braços a fim de que os demais participantes passassem embaixo, até que a fila terminasse, tal qual a coreografia de uma quadrilha (comum nas festas juninas).

Os copos recebiam outras doses das bebidas e o reforço permitia que a dança continuasse com alegria e diversão. A cesta para ofertas ficou repleta de dinheiro, a imagem que permaneceu 'olhando' recebeu pedidos de seus devotos, todos cumprimentavam São Gonçalo.Em Penha, a reverência a São Gonçalo guarda a história de seus seguidores, como lembrança do culto ao santo que chegou por aqui com a herança dos reimigrantes portugueses açorianos, pois muitos deles saíram de Florianópolis em 1777 após a invasão espanhola à ilha de Santa Catarina onde localiza-se Florianópolis -, e vieram estabelecer-se em Penha, no litoral Norte do Estado.

 O nome completo do santo é São Gonçalo do Amarante, originário de Amarante, Portugal e, ao contrário de Portugal, de onde o culto originou-se e espalhou-se pelas colônias sob seu domínio, no Brasil a imagem trás consigo uma viola. Estudiosos citam-na que por ser um instrumento do meio rural brasileiro, foi 'entregue' ao santo por gente do interior brasileiro, transformando-o em santo folião e padroeiro de artistas e cantores. Talvez, daí a formação dos pares na dança, tal qual a já citada quadrilha.

Porém São Gonçalo é popular também entre as casamenteiras mais velhas, as quais creditam-lhe a fama popular de atender pedidos desta natureza, a de arrumar casamentos.

Na noite do registro desta relato, as quadras populares cantadas/tocadas pelos folões terminaram com um verso acompanhado pela viola de 15 cordas de seu Jorge:
                   
"Vamo vamo meus amigos
que já estamos no final
estourá esses balões
prá modi di comemorá".

Dança com coreografia simples, dançada de frente para a imagem do santo, letra de música voltada á identidade dos sãogonçalistas locais, recolhimento de ofertas para os foliões, festa dentro de outra festa (às vezes, como aqui relatada, a Festa do Divino), a homenagem a São Gonçalo encontra seguidores a cada tempo. É só convidá-los!    

Comentários

  1. Aluna:Sandy Cinara Zeferino
    Série:2° ano "2" E.M.I

    Em uma festa d divino no dia de receber a visita da bandeira,após o acolhimento à bandeira,eles anunciavam ter sido aceito .Nos encontros as vezes não a dança dependendo do dono da casa.A noite quando tem convite vão homenagear São Gonçalo.Cada casal dançava ate imperador imperatriz.Em Penha São Gonçalo guarda historias do seu seguidores,esse santo chegou com herança de açorianos quando ocorreu invasão espanhola.

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  2. Alunos: Fernando Francez, Gabriel Yagi, Rafael , Antônio, Matheus Filipe Gonçalves
    Série : 8ª 2

    Comentário avaliativo: Não conheciamos o texto, porém é sempre bom conhecer outras culturas, nos interessamos e aprendemos bastante com o mesmo.Esperamos ver outros textos como este para nos entreter e aprender bastante.

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  3. Nadine Soares 3º4

    Não sabia que existia um santo padroeiro para artistas e cantores.
    Por isso tanta folia!

    Pelo que vi a cultura açoriana é cheia de santos padroeiros, que eu nem sabia que existiam! Muito bom essas matérias, aprendi muito sobre a cultura do lugar em que nasci. Espero que saiam mais textos como estes!

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  4. Anderson Filipe Moser
    Série:3°ano 05

    A Dança de São Gonçalo tem origem portuguesa. Era antigamente realizada no interior das igrejas de São Gonçalo, festejado a 10 de janeiro, data de sua morte em 1259. realizada em Portugal desde o Século XIII, chegou ao Brasil em princípios do Século XVIII,Em Penha São Gonçalo guarda historias do seu seguidores, esse santo chegou com herança de açorianos quando ocorreu invasão espanhola.

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  5. Era tempo da Festa do Divino. Num domingo a noite de maio de 2006, foi dia de receber a visita da bandeira para o casal Manoel Domingos e Auristela Corrêa, no centro de Penha.Na ocasião, três famílias recebiam a Bandeira do Divino para dois convites: um para que duas delas fossem "Empregados das Bandeiras" e outro, especial e de posto mais elevado (significando a importância do convidado no relacionamento do Imperador.O casal Imperador do ano também recepcionava a todos e, após o acolhimento à bandeira, os Foliões do Divino anunciavam ter sido aceito o convite especial quando a Imperatriz solicitou permissão para a Dança de São Gonçalo.

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  6. Aluno:Guilherme Loch 2°1

    Era tempo da Festa do Divino. Num domingo a noite de maio de 2006, foi dia de receber a visita da bandeira para o casal Manoel Domingos e Auristela Corrêa, no centro de Penha.Na ocasião, três famílias recebiam a Bandeira do Divino para dois convites: um para que duas delas fossem "Empregados das Bandeiras" e outro, especial e de posto mais elevado (significando a importância do convidado no relacionamento do Imperador.O casal Imperador do ano também recepcionava a todos e, após o acolhimento à bandeira, os Foliões do Divino anunciavam ter sido aceito o convite especial quando a Imperatriz solicitou permissão para a Dança de São Gonçalo.

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  7. Pedro Antônio Vieira
    Série:2º1

    A dança de São Gonçalo acontece geralmente quando o imperador e a imperatriz da festa do divino acolhem a bandeira em suas casa.Como em 2006 quando o casal Francisco Salles e Bernardina Cordeiro fizeram um convite para que a dança de São Gonçalo.Cerca de 120 pessoas presentes nesta noite ouviram o convite para a dança, significando que São Gonçalo iria ser homenageado. Nem precisou insistir: as pessoas se organizaram aos pares, sem número fixo, valendo mulher com mulher, casal não casado, gente de todas as idades, e formavam uma fila. Havia público que assistia e a alegria era uma só.
    A dança acontece geralmente na ultima casa programada para o fim de semana ou seja num domingo a noite.

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  8. Aluno:Luiz G. Pinto 2ª1

    O nome completo do santo é São Gonçalo do Amarante, originário de Amarante, Portugal e, ao contrário de Portugal, de onde o culto originou-se e espalhou-se pelas colônias sob seu domínio, no Brasil a imagem trás consigo uma viola. Estudiosos citam-na que por ser um instrumento do meio rural brasileiro, foi 'entregue' ao santo por gente do interior brasileiro, transformando-o em santo folião e padroeiro de artistas e cantores. Talvez, daí a formação dos pares na dança, tal qual a já citada quadrilha.
    Porém São Gonçalo é popular também entre as casamenteiras mais velhas, as quais creditam-lhe a fama popular dNa noite do registro desta relato, as quadras populares cantadas/tocadas pelos folões terminaram com um verso Dança com coreografia simples, dançada de frente para a imagem do santo, letra de música voltada á identidade dos sãogonçalistas locais, recolhimento de ofertas para os foliões, festa dentro de outra festa (às vezes, como aqui relatada, a Festa do Divino), a homenagem a São Gonçalo encontra seguidores a cada tempo. É só convidá-los! acompanhado pela viola de 15 cordas de seu Jorge:e atender pedidos desta natureza, a de arrumar casamentos.

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  9. Cerca de 120 pessoas presentes nesta noite ouviram o convite para a dança, significando que São Gonçalo iria ser homenageado. Nem precisou insistir: as pessoas se organizaram aos pares, sem número fixo, valendo mulher com mulher, casal não casado, gente de todas as idades, e formavam uma fila. Havia público que assistia e a alegria era uma só. Porém São Gonçalo é popular também entre as casamenteiras mais velhas, as quais creditam-lhe a fama popular de atender pedidos desta natureza, a de arrumar casamentos.

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  10. Aluno: Esmael centeno da luz

    Cerca de 120 pessoas presentes nesta noite ouviram o convite para a dança, significando que São Gonçalo iria ser homenageado. Nem precisou insistir: as pessoas se organizaram aos pares, sem número fixo, valendo mulher com mulher, casal não casado, gente de todas as idades, e formavam uma fila. Havia público que assistia e a alegria era uma só. Porém São Gonçalo é popular também entre as casamenteiras mais velhas, as quais creditam-lhe a fama popular de atender pedidos desta natureza, a de arrumar casamentos.

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  11. Aluna:Amanda Silva Cipriano 305
    Era antigamente realizada no interior das igrejas de São Gonçalo, festejado a 10 de janeiro, data de sua morte em 1259,essa dança tem origem portuguesa.Realizada em Portugal desde o Século XIII, chegou ao Brasil em princípios do Século XVIII,Em Penha São Gonçalo guarda historias do seu seguidores, esse santo chegou com herança de açorianos quando ocorreu invasão espanholA, é popular também entre as casamenteiras mais velhas, as quais creditam-lhe a fama popular de atender pedidos desta natureza, a de arrumar casamentos.

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  12. Aluna: Ariane costa da Silva 3º05
    Em tempo de Festa do Divino, três famílias recebiam a Bandeira do Divino para dois convites: um para que duas delas fossem "Empregados das Bandeiras" e outro, especial e de posto mais elevado (significando a importância do convidado no relacionamento do Imperador).
    Cerca de 120 pessoas presentes nesta noite ouviram o convite para a dança.Geralmente a dança acontece na última casa programada para o final de semana, ou seja, domingo à noite, quando a Bandeira da Peregrinação, que é a bandeira oficial das visitas para os convites aos empregados, visita as últimas famílias listadas.São Gonçalo do Amarante, originário de Amarante, Portugal e, ao contrário de Portugal, de onde o culto originou-se e espalhou-se pelas colônias sob seu domínio, no Brasil a imagem trás consigo uma viola.São Gonçalo é popular também entre as casamenteiras mais velhas, as quais creditam-lhe a fama popular de atender pedidos desta natureza, a de arrumar casamentos.

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  13. Gabriel Fernando Mendes 2º 2

    A Dança de São Gonçalo tem origem portuguesa. Era antigamente realizada no interior das igrejas de São Gonçalo, festejado a 10 de janeiro, data de sua morte em 1259. realizada em Portugal desde o Século XIII, chegou ao Brasil em princípios do Século XVIII,Em Penha São Gonçalo guarda historias do seu seguidores, esse santo chegou com herança de açorianos quando ocorreu invasão espanhola.

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  14. Jailson Bósio, Gabriel Odair Rosa 3º5

    Ocorre em tempo de Festa do Divino, onde três famílias recebem a Bandeira do Divino. A dança ocorria em todas as casas que acontecia a visita da bandeira e na casa do Imperador, se fosse concebida a permissão do dono. Na dança pessoas se organizavam em pares, valendo todo tipo de casal. Nas festas eram usadas melodias populares de base açoriana em Penha. Durante a dança ocorriam várias etapas.

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  15. Registro da dança de São Gonçalo em Penha

    Era uma festa divino, três famílias recebiam a Bandeira do Divino para dois convites: um para que duas delas fossem "Empregados das Bandeiras" e outro, especial e de posto mais para:Empregado de Vara cujo conjunto de quatro varas forma o quadro dentro do qual segue o Imperador e seu cortejo no domingo, dia de Pentecostes, quando ocorre a Coroação do Imperador do Divino durante a Santa Missa na Igreja Matriz de Penha.
    Geralmente a dança acontece na última casa programada para o final de semana, ou seja, domingo à noite, quando a Bandeira da Peregrinação, que é a bandeira oficial das visitas para os convites aos empregados, visita as últimas famílias listadas.
    Com frequência os foliões entoavam novos versos e o casal precisava permanecer ajoelhado. O Imperador e a Imperatriz também dançavam, aguardando a sua vez e escutavam os versos tirados de repente. Enfim São Gonçalo chegou com herança de açorianos quando ocorreu invasão espanhola.

    Aluna: Tayná Cristina de Souza
    Série: 2º02 EMI

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  18. A Dança de São Gonçalo tem origem portuguesa. Era antigamente realizada no interior das igrejas de São Gonçalo, festejado a 10 de janeiro, data de sua morte em 1259. realizada em Portugal desde o Século XIII, chegou ao Brasil em princípios do Século XVIII,Em Penha São Gonçalo guarda historias do seu seguidores, esse santo chegou com herança de açorianos quando ocorreu invasão espanhola.

    Cassiano Luiz Adriano 3º4.

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  19. é uma dança composta por vários casais em uma fila em frente a um móvel onde encontra-se uma imagem de São Gonçalo e um copo de bebida, geralmente cachaça, os casais ao ficarem em frente a imagem, beijam e reverenciam a mesma, dançam, fazem pedidos, bebericam a bebida e colocam uma ajuda em dinheiro.
    Muito bom saber das culturas antigas da nossa cidade!

    Daiane Voigt Costa, 3º4

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  20. Aluno:Eduardo Reinert Jr.
    Série:2º 2.
    Bem outra ""festa"" que eu posso dizer que não conheço e nunca ouvi falar até agora, é um texto que se trata sobre Registro da dança de São Gonçalo em Penha, festa Católica, outra "festa" de origem portuguesa aparentemente, e é meio que visitas com a bandeira onde a dança e cantoria, mais dependendo do dono da casa não ocorre a dança, e na MINHA OPINIÃO não me interessei muito.

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  21. Outra festa que de fato não conhecia, ela relata sobre a Dança de São Gonçalo, uma festa católica, que contem danças, cantorias. Uma festa do divino no dia de receber a visita da bandeira,após o acolhimento à bandeira,eles anunciavam ter sido aceito. Nos encontros as vezes não a dança dependendo do dono da casa.

    Evelyn Thamirys Van Den Bylaardt
    2º02 EMI

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