Cozinha Açoriana
Cozinha açoriana em Penha:
pescar, preparar e comer.
Maria do Carmo Ramos Krieger*
Desde
1974, Bettina Orrico testa receitas para Cláudia, da Editora Abril – a revista
queridinha das brasileiras. No segundo semestre de 2012 ela assina a secção
Santa Catarina, Abril Coleções – Cozinha Regional Brasileira. É sua a
apresentação: “Santa Catarina sempre me pareceu sinônimo de festa, de chopp e
de alemão. Ou quase! Os portugueses, mais precisamente os açorianos, chegaram
primeiro e lá se fartaram com os pescados da ilha e de todo o litoral”.
Precisa ter
referência melhor?
Quanto ao item
Ingredientes Típicos, escreve: “Os açorianos trouxeram o amor pelos frutos do
mar, com suas caldeiradas e pratos no bafo. Dos nativos, veio a farinha de
mandioca, base do pirão”. À mistura diferente, ela justifica: “No litoral
predominam as técnicas herdadas dos imigrantes açorianos”. Ufa! Ainda bem que
isto vem de alguém como Bettina – papisa da cozinha de uma grande revista
feminina -, destacando técnicas regionais, ensinando o passo a passo de algumas
receitas.
Escolher,
comprar, temperar e... comer peixes, camarões, mariscos é verdadeiramente uma
arte!
Neste texto
sobre gastronomia quero chamar a atenção dos gourmets para receitas made in
Penha, as quais fazem parte do Projeto organizado por Renato Luís Amorim Silva,
Mônica Krieger Goulart e eu: “Penha: História, Cultura e Relatos”, que inclui,
entre outras informações, um mix de pratos facílimos de fazer, assinados por
pessoas que a-do-ram a cozinha açoriana, seja por laços de família ou adoção à
tradição e por isso mesmo emprestaram suas receitas.
De origem
açoriana, com histórias claramente inspiradas em pratos que combinam
ingredientes tão básicos quanto os citados na coleção, há uma nítida certeza:
nossa cozinha de base açoriana é certificada por tantos quanto dela servem-se
escolhendo cardápios dos restaurantes locais que apresentam tais iguarias.
Prova maior, por muitos anos, foi a distinção com estrelas do Guia
Quatro Rodas, também da Editora Abril, ao Restaurante Pirão D’Água – fechado
temporariamente. Sarita Santos, a proprietária, soube como ninguém manter a
tradição, não só servindo pratos típicos açorianos, mas também os nominando com
referências aos colonizadores cá chegados a partir de 1777, preparando-os com
aromas e sabores que se eternizaram na cozinha penhense.
É de Sarita Santos o prato Saudade
de Peixe:
Compõe-se de: bananas fritas, pirão do molho de camarão, molho com
palmito, filé de linguado na farinha de milho. Obs. da cozinheira: o camarão é
o sete barbas (de preferência do pescador artesanal).
Preparo:
Cozinhar o camarão com tempero completo e caldo de camarão (tablete).
Ferver. Acrescentar colorau e sal no caldo depois de coado. Adicionar no
camarão, cebola, alho, tomate cheiro verde, limão, cominho e palmito.
Engrossar o molho com manteiga e farinha.
Os filés devem ser salgados e temperados com limão. Passar pela
farinha de trigo (com um pouco de amido de milho), passar pelos ovos batidos e
por último colocar na farinha de rosca (na proporção 500 g de farinha de rosca
para duas xícaras de farinha de milho). Fritar em óleo quente.
O pirão deve ser feito com o caldo fervente, na proporção de duas xícaras
de farinha de mandioca para 1 litro de caldo. Você obtém o pirão com a
cremosidade que quiser, colocando o caldo fervente aos poucos.
Enfim, cheire o “conduto” e coma o pirão, já dizia minha mãe.
A influência de dona Nair de Oliveira, mãe de Sarita, foi tanta que
ela própria atribui seu gosto pela culinária àquela que, com habilidade e
conhecimento, passou-lhe tanta sabedoria gastronômica.
Se camarão, pirão, banana e linguado são os ingredientes de Saudade de Peixe, a tainha e suas
ovas compõem “Tainha Recheada”, receita
assinada por dona Lúcia da Costa Souza, popular dona Lucinha, filha de pescador
e esposa de seu Cláudio, que foi homem do mar e agora escreve causos sobre o
lugar onde vive o casal: Armação de Itapocorói, bairro de Penha.
Tainha Recheada.
Ingredientes: uma tainha grande (ovada), farinha de mandioca crua,
farinha de rosca, duas cebolas, cebolinha, alho, cominho, pimenta do reino,
vinagre, azeite, manteiga, sal, ovas da tainha.
Preparo:
1.
O debulho (ova)
Fritar bem o alho na manteiga em uma frigideira. Colocar a
ova e esfarelar. A seguir, acrescentar os temperos e fritar bem. Deixar
esfriar. Em seguida acrescentar a farinha de rosca (peneirada) e a farinha de
mandioca (peneirada). Reservar.
2.
A tainha
Após limpar o peixe, fazer pequenos lanhos (cortes) nas
laterais e salgar a gosto (colocar nos lanhos, para acentuar o sabor, um pouco
do debulho). Encher a tainha com o debulho e costurar com agulha e linha. Por
para assar em forno elétrico a 180 graus por 2 horas.
Outras receitas também fazem parte do Projeto Penha: História,
Cultura e Relatos – resultado de uma pesquisa gastronômica especial que permeia
o imaginário degustativo de quem as lê, são provocantes e repletas de emoções
para quem tem oportunidade de saboreá-las nos restaurantes locais.
Prove o sabor açoriano de além mar. Penha pode te surpreender!
*Pesquisa e escreve sobre cultura de base açoriana
em Penha/SC.
Diretora da Escola de Educação Básica Manoel
Henrique de Assis.
e-mail: maria-carmo@hotmail.com
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